✍️ Escrever para silenciar a mente
Ansiedade, depressão e a coragem de existir, um dia de cada vez
Quando a escrita virou abrigo
Eu comecei a escrever como uma forma de silenciar a minha mente.
Talvez você entenda. Talvez também tenha uma cabeça que nunca para. Pensamentos em looping. Ansiedade com hora marcada — e, às vezes, sem aviso algum.
No meu caso, a escrita virou um tipo de oração. Um espaço seguro. Um antídoto contra o caos interno.
Acho que já tá claro pra todo mundo que eu tenho transtorno de ansiedade generalizada — a famosa TAG.
O transtorno que sempre existiu, mas que só agora a gente tem dado nome, espaço, voz.
Quando tudo começou (sem que eu soubesse)
Minhas crises começaram aos 14 anos.
Só que eu não sabia que eram crises de ansiedade.
Sentia meu peito sendo esmagado.
Faltava ar.
Desmaios na escola, na rua, em casa.
Minha mãe achou que fosse alguma doença física. Fizemos uma bateria de exames, passei por inúmeros médicos.
Até que um deles soltou a frase que nunca esqueci — nem o tom, nem o deboche, nem o olhar.
“Ela deve estar apaixonada. Tá fingindo pra chamar sua atenção.”
Eu congelei. Minha mãe explodiu (obrigada, mãe — mesmo que você não esteja lendo isso, obrigada por ser uma leoa).
Ela respondeu:
“Eu conheço meus filhos. Eu sei quando estão mentindo. E eu estou vendo minha filha sofrer. Alguém precisa ajudá-la.”
A parte que ela quase pula no médico eu deixo pro off…
Mas o que ficou claro ali foi: há um despreparo enorme.
Não só entre médicos — na sociedade como um todo.
O peso invisível da saúde mental
Falar de saúde mental ainda assusta.
Tem quem duvide, tem quem fuja, tem quem diminua.
Mas como disse o psiquiatra Augusto Cury:
“As maiores prisões não têm grades, mas sim pensamentos.”
E essa prisão, eu conheço bem.
Só recebi meu diagnóstico em 2019: ansiedade e depressão.
Foram anos sofrendo sem saber o nome da minha dor.
Eu achava que tinha uma doença rara, que talvez entraria para uma estatística de “caso misterioso”.
O futuro que eu não conseguia imaginar
Passei a viver um dia de cada vez. Literalmente.
Não fazia planos para o futuro.
Achava que não estaria aqui aos 30.
Hoje tenho 26 e confesso: estou assustada.
Não com a idade, mas com o desconhecido.
Planejei minha vida só até os 29.
E o que vem depois disso? Eu não sei.
E o que não sei… me assusta.
Inseguranças e os fantasmas que moram comigo
Talvez você esteja pensando:
"Nossa, ela é super insegura."
E sim. Eu sou.
Mas estou em terapia desde 2019. E sigo firme.
Sou uma mulher cheia de traumas — como muita gente.
Carrego feridas que talvez nunca cicatrizem.
Mas tento, todos os dias, lidar com elas.
Uma por uma.
Durante esses seis anos de terapia, tive três recaídas com a depressão.
Três tombos que me rasgaram.
Acreditei, de verdade, que não conseguiria voltar.
Mas voltei.
E estou aqui, escrevendo para você.
Uma linha fina me segurava em pé
Sempre fui falante, risonha. Mas comecei a me ver apagando aos poucos.
Perdi peso.
Perdi foco.
Perdi vontade.
Tinha dias que não conseguia assistir a um desenho com minha sobrinha.
Nem ficar com meu marido (na época, namorado).
Nada me dava sentido.
E eu me perguntava:
“Por que, mesmo, eu preciso estar viva amanhã?”
Comecei a criar mecanismos para me manter aqui.
Acordar porque marquei de fazer a unha.
Sobreviver porque combinei de encontrar o Raphael.
Ficar porque prometi um filme com minha sobrinha.
Motivos simples. Pequenos. Mas, pra mim, vitais.
Até o dia em que não tinha nenhum “motivo” no dia seguinte.
Liguei para o Raphael. Desesperada.
Chorei.
Muito.
Disse: “Não tenho porque continuar amanhã.”
E ele respondeu:
“Amanhã, a gente vai tomar café juntos. Esse é o motivo.”
Nosso encontro virou meu fio de vida.
Fragilidade também é força
Esse talvez seja um dos textos mais profundos que escrevo.
Porque estou me expondo.
E pode parecer fácil — mas não é.
Terapia, tempo, fé, amor, pequenos encontros, tudo isso me fez sair do fundo do poço.
Mais uma vez.
Devagar. Passos de formiga. Mas para cima.
E sim, talvez aqui eu dê uma de coach.
Mas com vivência e verdade:
Você é forte. Você é capaz. Você consegue.
Um recado pra você
Você que está lendo até aqui, eu não sei pelo que está passando.
Mas sei que só você conhece a sua dor.
Só você entende a profundidade do seu abismo.
Mas escuta:
Você consegue.
Sabe por quê?
Porque se existe dentro de você uma voz — mesmo que num sussurro — dizendo “você vai conseguir passar por isso”,
então é porque você vai.
É porque você pode.
Meredith Grey e o movimento da vida
Como disse Meredith Grey, em Grey’s Anatomy:
“A roda nunca para de girar.”
A vida não para.
Ela atravessa. Ela sufoca. Mas também… ela é bela.
Não estou aqui pra romantizar sofrimento ou adoecimento mental.
Mas pra te dizer que eu estou viva graças a mim.
Mesmo quando tentei desistir de mim…
Lutei.
E sigo lutando todos os dias quando eu decido abrir os olhos.
Eu quero viver. Pela primeira vez, pra mim.
Hoje, eu quero viver.
Viver a minha vida.
Quero respirar sem medo.
Quero andar pela rua sem achar que vou desabar.
Quero ir ao cinema sozinha.
Quero fazer as coisas por mim.
Simplesmente porque eu mereço. Porque eu posso. Porque eu existo.
Se esse texto te atravessou, compartilha com alguém que também está lutando em silêncio.
E me conta nos comentários: qual foi o fio de vida que te segurou em pé? Às vezes, ele é pequeno — mas ainda assim, é forte.
Com todo meu afeto,
Vit